A convocação de 25 diretores de escolas municipais de São Paulo para participação em um programa de formação tem gerado controvérsia e debates intensos entre especialistas, sindicatos e a comunidade escolar. A medida, adotada pela Secretaria Municipal de Educação, tem como base indicadores educacionais, como o Ideb e o Idep de 2023, mas especialistas afirmam que esses índices não refletem completamente a realidade das unidades escolares envolvidas. A discussão gira em torno dos critérios usados para seleção e das consequências práticas dessa formação para a gestão das escolas.
O programa denominado Juntos pela Aprendizagem busca aprimorar o trabalho pedagógico nas unidades selecionadas, porém, a escolha das escolas priorizou aquelas com resultados mais baixos no Ideb e no Idep. Embora a prefeitura tenha afirmado que os critérios foram técnicos e transparentes, a análise mostra que menos da metade das escolas convocadas correspondem exatamente às piores classificações. Essa disparidade tem motivado questionamentos sobre a adequação dos indicadores para avaliação da qualidade do ensino e para a tomada de decisões administrativas.
Especialistas em educação e gestores escolares destacam que o uso exclusivo do Ideb e do Idep para medir o desempenho e decidir afastamentos de diretores ignora contextos socioeconômicos e estruturais que influenciam diretamente os resultados escolares. A realidade de muitos estudantes inclui fatores como alta rotatividade, condições precárias de infraestrutura, além da presença significativa de crianças imigrantes ou em situações de vulnerabilidade, aspectos que os índices não capturam integralmente.
Além disso, a convocação dos diretores para o curso de formação implica em afastamento temporário das funções nas escolas, com carga horária de 1770 horas, o que pode comprometer a rotina e a gestão das unidades educacionais. A ausência dos gestores gera preocupação entre educadores e familiares, uma vez que a direção desempenha papel fundamental no vínculo com a comunidade e na condução das atividades escolares, impactando diretamente no ambiente pedagógico.
O cenário motivou a atuação do Ministério Público e da Defensoria Pública de São Paulo, que solicitaram esclarecimentos à prefeitura sobre os critérios usados para o afastamento, o conteúdo e a duração da formação, além da substituição dos diretores durante o período. Esses órgãos também questionam a ausência de diálogo prévio com os servidores e a falta de garantias de que os direitos dos profissionais serão respeitados, destacando o caráter controverso da decisão administrativa.
Estudos recentes apontam que os baixos índices educacionais estão profundamente relacionados a desigualdades sociais, econômicas e territoriais, reforçando que a avaliação do desempenho escolar deve ser ampla e considerar múltiplos fatores. O Ideb, embora seja uma ferramenta importante, não pode ser utilizado isoladamente para punir ou afastar diretores, já que isso pode desestruturar o trabalho que vem sendo realizado e prejudicar os estudantes.
A comunidade escolar e especialistas também defendem que a gestão democrática deve ser respeitada, e medidas como essa precisam ser acompanhadas de diálogo transparente e participação coletiva. A educação envolve relações de afeto e compromisso, e o afastamento abrupto dos diretores fragiliza esse vínculo essencial para o desenvolvimento das escolas e para a construção de ambientes educacionais saudáveis.
Por fim, o debate em torno da formação e afastamento de diretores em São Paulo evidencia a complexidade de se melhorar a educação em contextos desafiadores, exigindo políticas públicas integradas que enfrentem desigualdades estruturais e valorizem o protagonismo dos profissionais e das comunidades escolares para garantir o direito à educação de qualidade para todos.
Autor: Lachesia Inagolor