A ordem de busca e apreensão em endereços ligados ao deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), cumprida pela Polícia Federal nesta quinta-feira (18), foi motivada por uma “forte ligação” do parlamentar com Carlos Victor de Carvalho – identificado pela PF como uma “liderança da extrema direita” de Campos dos Goytacazes (RJ).
Esse vínculo é indicado pela PGR a partir de conversas por mensagem de celular, nas quais Carlos Victor pede orientações e autorizações a Jordy para organizar atos golpistas após as eleições de 2022, quando o então presidente Jair Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
As buscas foram pedidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito dos atos golpistas. Em vídeo nas redes sociais, Jordy negou relação com golpistas (veja mais detalhes abaixo).
Ainda de acordo com a Procuradoria-Geral da República, que pediu os mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta, os dois chegaram a se falar por telefone no dia 17 de janeiro de 2013 – uma semana após os atos golpistas na Praça dos Três Poderes, quando Carlos Victor Carvalho estava foragido.
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Segundo a PGR, a investigação foi aberta para apurar os movimentos de bloqueios em estradas. No curso da investigação, “especificamente quando da análise das mídias, de dados obtidos nas contas de e-mail ou fontes abertas, foi possível colher indícios que Carlos Victor de Carvalho possui fortes ligações com o deputado federal Carlos Jordy”.
A PGR afirma que o vínculo “transpassa” o lado político, “denotando-se que o parlamentar, além de orientar grupo expressivo de pessoas, tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”.
O Ministério Público classifica Carlos Victor como uma “liderança da extrema-direita local, responsável por administrar mais de 15 grupos de WhatsApp, com temáticas extremistas”. De acordo com a investigação, é possível concluir que ele “organizou eventos antidemocráticos na cidade de Campos dos Goytacazes”.
O líder, segundo a PGR, tinha o “hábito de trocar mensagens” com Jordy. São 627 registros, entre mensagens de texto, áudio, anexos e ligações. A maior parte das conversas ocorreu entre agosto e outubro de 2022, meses da campanha presidencial.
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Jordy nega relação com golpistas
Em vídeo divulgado nas redes sociais nesta manhã, Carlos Jordy confirmou que foi alvo de buscas em sua casa no estado do Rio de Janeiro, e que os policiais levaram uma arma e dinheiro que estavam guardados no imóvel.
“Os agentes até foram bem educados, diziam que estavam fazendo o trabalho deles. Mas eu não sabia o que era, tive aqui o mandado, me deram a cópia. Petição 11.986, eu desconhecia o que era. Eles estavam buscando arma, celular, tablet. E pegaram, eu falei onde estava minha arma, pegaram meu celular. Tentaram buscar outras coisas que pudessem me incriminar, mas não encontraram nada. Queriam dinheiro, eu tinha R$ 1 mil aqui em casa”, afirmou.
Jordy também negou que tenha participado de atos golpistas ou incentivado as manifestações com pautas antidemocráticas.
“Eu, em momento algum do 8 de janeiro, eu incitei, falei para as pessoas que aquilo ali era correto. Pelo contrário. Em momento algum eu estive nos quartéis-generais quando estavam acontecendo todos aqueles acampamentos. Nunca apoiei nenhum tipo de ato, tanto anterior ou depois no 8 de janeiro. Embora as pessoas tivessem todo o seu direito de fazer suas manifestações contra o governo eleito.”
Outros alvos
Moraes retirou o sigilo da decisão judicial na manhã desta quinta, após o cumprimento dos mandados. Além de Carlos Jordy e Carlos Victor de Carvalho, são alvos desta fase atual da operação Lesa Pátria:
André Luis Santos Carneiro;
Charles Adriano Siqueira de Souza;
José Maria Mattar;
Juliana Machado da Silva Ribeiro;
Leonardo Loureiro Ferraz;
Lucia Maria Caxias dos Santos;
Luiz Eduardo Campos de Oliveira;
Neide Mara Gomes Palmeira;
Raquel Nunes Barbosa.
No caso dessa lista, segundo a decisão de Moraes, “suas condutas ocorreram no contexto dos atos golpistas ocorridos na Esplanada dos Ministérios em 8/1/2023, com destruição dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e, com muito mais raiva e ódio, do Supremo Tribunal Federal, fatos amplamente investigados em diversos procedimentos que tramitam nesta Suprema Corte”.